domingo, 27 de junho de 2010

Gratidão

Ela voou sobre o meu dorso,
sem menor esforço,
pintando em tons cinza-aquarela o alvorecer.
Era o perecer,
do anjo que tornou dádiva o antes fardo.
Sabe, não obstante perdura o calor do seu abraço... Ainda ardo.

Porquanto um dia me convenceu do renascer,
sem perceber,
que desafeto cujo passado eu alvo,
grato pelo seu afago salvo,
pois fez meu efêmero desfazer-se vazio.
Hoje acho graça do tempo torvo... Eu sorrio.

Ah, anjo... teu eterno teve fim nos meu braços;
tempo tenebroso que do teu sangue herdei os traços.
Assim, foi-se nosso encontro repentino,
de nada desatino.
Assim, veio lembrança do dia da liberdade,
o mais sombrio, quando encontrei amparo no seio da verdade.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Encanto de Druantia

Que eu, munido deste relicário
una todo perdido fragmento,
tão logo fora deste calvário
negando todo dissabor do fardo momento.

Que eu, dotado do teu poder
ora possa com intenso encanto
assumir diverso querer
vez longe de antigo pranto.

Deusa de eterno saber,
ofereço-te este áureo pingente,
esta rosa em botão de cobiçado querer,
e este punhal de fio recente.

Dota-me com calor assaz
e faz
do tempo alento
um desatento.

Reconhece teu adorador,
destas palavras anunciador.
Palavras deste viúvo consorte
com devoto porte;
da morte,
que seja um enganador.

(Marco de Moraes)

sábado, 5 de junho de 2010

Dizer sereno

Os verdes teus que vejo
são vazios, são tristeza.
O sereno conselho que almejo
é mais que palavra, é presteza.

O quão grande é teu sofrer
que te agride e ignora.
Esqueceste que esse dizer
é de alguém que também sofre por ora.

Oiça a tua alma,
ela te acalma.
Dá valor ao teu coração
e guarda do pensar inútil que conhece,
mas despreza tua paixão.


(Marco de Moraes - poesia retirada do conto "Dizer sereno que se ouça", de minha autoria.)