domingo, 24 de outubro de 2010

Justo e conforme

Há quem morra
e ainda assim perambule,
e que às orlas de calçadas dissimule
desistente em vontade domorra.

Eu digo: avança e alcança,
sê audaz, capaz,
porque no jogo da vida se lança
e para o bon vivant não há “mas”.

Logra o tempo até o amanhecer
e atende o meu berro à tua janela.
Levanta e te troques, consegui ter com ela,
a moça que disse retribuir o seu querer!

Abra tu os braços, amigo,
pois o hoje nunca esquecerás.
Descerás aqueles ladrilhos comigo
e poesia pronta recitarás.

Esquece que morreste
já que agora és outra pessoa.
Os versos insones que escreveste
são do passado que longe ecoa.

Tu trocavas passos amontoados
por toda curva disforme.
Obedece a tu´alma com maiores cuidados
e sê contigo justo e conforme.

domingo, 17 de outubro de 2010

O despertar do desejo oculto

A luz amarelada titubeava tentando acompanhar a dança da brisa que adentrava rodopiando na ponta dos pés entre as grades da tímida janela aberta enquanto o meu passo imoto ditava o ritmo e media o andamento de um silêncio infame que condizia com a escuridão a me rodear e me tentar a ser mais um, apenas mais um, imerso no denso breu onde todos esqueciam tudo, até o óbvio, e de lá eu podia enxergar as sombras recostadas nas paredes se recobrando das fadigas que lhes acometiam naquela sala. Sozinho? Não. O frio presente me forçava a envolver-me e aconchegar-me no meu abraço carente de afeto e perdido de saudade por tempos de cujos sorrisos me recordava vagamente, pois refletir sobre a vida ante uma pequena vela acesa que chiava por ter seu corpo esbranquiçado consumido pelo tempo e sendo o seu fim assistido por um alguém que nada podia fazer era algo raro e devaneante. Assim que a escuridão contagiou o cair da noite, tateei pelas várias gavetas velhas – elas rangiam de tão roucas, você precisava ouvir – afoito procurando por ela, a vela pequenina que me traria a esperança e a certeza de que pode – e deve – nascer luz em meio ao umbral. Eu dei vida àquela chama e implorava para que o seu calor perdurasse consoante à teimosia de uma paixão, até então inevitável, que a diminuía mesmo eu entregue ao anseio pela sua vida. Havia erro e eu o senti por vez intenso até perceber que me enganava ao sorver um enlevo que não me pertencia; olhei então para as sombras que descansavam no rodapé da parede, instante em que me doei ao tino. O vento parou, a chama parou, o frio também. Eu não. Perguntando ao meu íntimo encontrei a resposta abafando a chama com as mãos acreditando que conseguiríamos ser felizes. Tudo se encheu de calma e então pudemos nos banhar do fulgor lunar que atravessou pela janela e que amamos desde então.

domingo, 3 de outubro de 2010

Uma confissão a mais

Olhares, um longo abraço, adeus.
Hoje me convenci de que a inquietude da minha insistia em cutucar meus ombros durante o sono pois existia um forte porquê.
Existia, não mais... desistiu.
Durante o atempo – eu mesmo me perdia pelos caminhos do dia – em que fiz promessas e esperei cada fim de noite para mergulhar por voos livres em sonhos onde tudo podíamos eu toquei os pés no chão com cuidado para não te acordar.
Será que podia ser, ou podíamos ser?
Mas espera, juntos já podíamos...
Desculpa, há momentos em que me perco no que digo entre essas leves paradas que me plantam com esta cara de bobo e fincam sussurros soturnos ao pé do ouvido. Tudo isso são manifestos sãos sobre ideias que me fluem e se atropelam desengonçadas, envergonhadas por existirem, serem. As ideias que me traziam você por muito perduraram, mas por ora cambiaram.
Gambiarra.
Intento por ter prazeres e oferecê-los sem acanhos, desejei rir, rir de novo e sem nem pensar em causa, tampouco em consequência, confessei vontades sobre o teu colo. Vontade que tenho é de derramar palavras até o fim do nanquim e o desgaste da pena, mas uma pena que o maior desejo é de que este contar indizível seja indivisível a percorrer uma medida que sequer existe.
Atônito, atonal, até anormal.
Como se não bastasse a dor súbita e encorajadora da partida, dou brecha para um adeus que de futuro se apresentou presente e que dadivoso tornou-me mais sincero e entendedor de mim.
Olhares, uma confissão a mais, silêncio. Eu não te encontro, eu não te conto, confesso, não mais.