quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pensares insones

Muitos pensamentos à toa vieram à tona ao conhecer quem me dissesse, sem medidas acanhadas, que palavras apanhadas antes de acostar-se devem ser derramadas no papel (nosso pensar vem repentino e se vai feito moleque em um pique no desatino divertido que, assim entendi, é intencional). Numa brincadeira de muitos convidados, a seriedade da rotina seria como um ponto de vista, subjetiva, e o interpretar diário árduo seria uma piada de mau gosto em que só um lado ri, no passar de malandragens esvoaçadas, tolas. Vai-se o céu claro de todo dia e chegam os brilhos pequeninos espalhados no véu escuro sob o qual uns dormem, enquanto outros se intrigam ao lê-los pela travessia do tempo, entendendo a ordem dos dias, os bons e os ruins. Tenho o pincel à mão, embora tintas não saiba misturar para a tela cobrir; tenho a caneta pronta e então escorro palavras, tatuando ao bel-prazer os pensamentos. Torço para que a falta de jeito com o pincel permaneça, tal qual a intimidade com a caneta cheia me faça borrar papeis ingênuos e que a vivência possa dizer o que entendo de mim, do mundo e dos arredores. A falta de sono se dá pela vontade de viver.


(Marco de Moraes)