sexta-feira, 22 de julho de 2011

Desmedido


Quanto medo e restrição impõem à vida de quem não se aventura os acanhamentos que, não porventura, abafam as chances de traduzir o desejos mais profundos em atitudes? A medida do tempo é objetiva, todavia cabe à nossa coragem fazer dela subjetiva, tal qual oportuna, nas linhas da intimidade entre os irmãos tempo e espaço. Longas distâncias podem ser percorridas, já os dias pomos guardados nas semanas, dentro de meses e anos. O primeiro dia é alívio, o segundo é perfeito, o terceiro se mescla na despedida e na vontade por voltar ao primeiro. O tempo pode ser de um dia ou mais, contudo o sentimos como se fossem apenas segundos ao lado de quem amamos.


(Marco de Moraes)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Às meninices matutinas

Entregue a devaneios bambos senti o cheiro ingênuo da infância remetido às lembranças dos azulejos marrons – não mais fabricados – presos às paredes do corredor que antecedia o quintal da frente, acesso às estripulias descalças com pequeninas carambolas de vidro entre os dedos das mãos e uma bola de borracha dura conduzida por pés cobertos terra. Não poucas foram as manhãs que corriam ligeiras tais quais os inúmeros piques de nome inventado. Nossos dias passaram perante os olhos distraídos, sem doer, deixando pistas para histórias nas marcas de machucados há muito fechados e que nos lembramos risonhos ao tocá-los. Por vezes, a nostalgia é um aperto leviano no peito, um pano morno sobre as dores sentidas perante o dia-a-dia em um mundo rude e desigual.


(Marco de Moraes)