terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Adeus, ano ordinário

Por fim pude me despedir de um ano arrastado e birrento que não me foi muito cortês. Já era sem tempo, como não? Vez não faltou no ano que jaz para que eu, ofegante, lamentasse por tão pouco ter chance para repousos que convencessem meu corpo de que era hora de fechar os olhos trêmulos um tanto, sem contratempos maiores a me preocupar porque ou eu passava do compasso ou me atrasava. Eram pormenores, os pormenores... Meus palpites sujos e infelizes foram objetos de desdéns de dias-a-dia pilantras cuja realidade era indigesta, mas que por sorte geraram motivos para honrarias ricas resultantes de bons dizeres escritos. Disto me poupo da insatisfação, até me permito evitar: palavras brotaram no terreno interior tido como infértil e acusado como parco, quando em verdade era tímido – houve quem não entendesse ou se fizesse desentendido, bem sei – e se mostrava reflexivo, retraído até se entregar à irresistível brancura do papel e às oportunidades que só as vontades por liberdade proporcionam, digo ainda que muito saborosos foram os frutos regados de nanquim! Houve momentos de plena escuridão matinal em que vozes ecoavam baixo amiúde, dispersando os sentidos com fins de blefe embolados sendo que pouco restou para me enganar enquanto era convocado a trilhar desconfiado pelas sombras ouvindo sussurros sedutores incansáveis. Meras induções a erros. Decerto foi o tipo de engano torvo que tive de conviver, assim como o desgosto pelo fel deveras sensaborão que me alertava por eu ser o ofensor da tristeza agredido por todos os recantos em surras estúpidas, rígidas e necessárias por que deveria passar. Fiz-me solitário a vislumbrar os encantos do céu em presentes raros que reconheci merecedores de atenção porque dúvidas não faltaram: foi um ano de reclusões merecidas às quais reflexões da vida me fizeram enxergar o antes impossível. Cabe aqui um despedir que estava entalado, demasiado voluntário: adeus, dias doloridos de um ano ordinário.

(Marco de Moraes) 

6 comentários:

  1. Já Vai Tarde ou Precisávamos Disso? Digo precisávamos, terceira pessoa do plural, da qual incluo minha humilde pessoa, passamos. Ou já vai tarde e as novidades nos serão magníficas? Pelo que passamos, 2011 ou nos mata de vez ou será o ano de coisas boas... Muitos boas...

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  2. rs, pelo tipo não fui só eu que agradeci por 2010 ter acabado!
    Foi realmente um ano tenebroso!

    Que seu 2011 seja explendido!
    Cheio de realizações, novas experiencias, novas expectativas, novas portas e janelas abertas!
    E muita, muita felicidade!!!

    Duas coisas a comentar:
    1º: como consegue escrever e descrever as coisas dessa maneira? tão intensa e profunda! Me entantei por suas palavras!!!
    2º: com relação a foto, sabia que a primeira vez que eu vi, pensei: "isso daria uma tatoo incrivel".
    Ela deve ser muito bonita!

    bjoos
    Akii

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  3. 93!

    Viu que não é somente por ser teu Ir.'. que aprecio teus escritos?

    Abraços.
    93, 93/93
    Éthos

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  4. Eu percebi que muita gente não via a hora de 2010 dar adeus e ficar no passado, mas tenho que dizer que entre altos e baixos, aquele foi um bom ano para mim e vou carregar muitas boas lembranças comigo.
    Gostei bastante do seu texto, muito bem escrito, você se entregou nessas linhas e nos fez viajar enquanto lia. Parabéns e que 2011 seja um bom pra ti, no geral.

    Abraços!

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  5. Oi querido!
    Só pra avisar que tem um pequeno presentinho pra vc lá na Toca. Se quiser é claro!
    Fique avontade!

    beijos!
    Akii

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