quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Passado em pautas

Tentei forçar não ser (eu, que escondi os meus anseios por pura vergonha, orgulho omisso para não margear a tristeza, não ser fraqueza desonesta, inacabada, conjugada em verbo indefinido nas pautas cujo fundo branco amassei, rasguei em pedaços, mas guardei no meu bolso com zelo inexplicável. Tapeei-nos - a nós dois - cobrindo o rosto com as mãos, mas o enquanto tanto demorou, que nos ditanciou e de longe pouco ouvia a sua voz quando eu mesmo precisei. Fui impreciso e fui, de improviso, gritando reclames com os azuis do céu que se desmancharam em borrões, deixando-me sozinho; na verdade, faltaram-me direções para apontar, arrimos para suavizar o peso, ar para ser; o saber me faltou. O que passou não me foi passado por ninguém, portanto, desavisado, incomodei o quanto pude e, rude, pedi silêncio para compreender quando me preocupei com um som que servisse para trepidar o vidro tênue, mesmo resistente, que construí para separar um mundo – o nosso mundo – em dois com robustez tamanha que nenhuma outra artimanha me ocorreu (percebi que tu não enxergavas nada antes do zero). Minhas horas em vigília foram expostas pelas profundas olheiras cuja cura limitou-se no passado de num quintal morto e vazio, paradoxo no qual fluíam pensares sobre o quão óbvia pode ser a entrega da alma – intrínseca – aos cuidados alheios e compreender o que são sopros, manifestações de vida, além de entender a essência de o que são vontades. Pude enterrar com mãos nuas aquele presente cavando fundo em terras tristonhas ao passo que o suor suavizava meu corpo indecente, ainda que puro, no instante nada casual de uma decisão), porém esvaziei os bolsos daquele branco amargo, a fim de que pudéssemos sorrir com mais naturalidade. Eu, aqui; tu, não sei onde.


(Marco de Moraes) 

3 comentários:

  1. Por que sempre me sinto tão bem aqui???
    Como se estivesse em casa!

    Desculpe o sumiço, a vida está uma correria, e tudo tende a piorar com a volta as aulas na segunda.
    Mas é inevitavel ficar loge daqui!

    O texto como sempre maravilho, quando eu crescer quero poder escrever assim também!
    Suas palavras sempre mechem comigo.

    Beijo e excelente semana pra ti.
    Akii

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  2. Marco querido suas palavras me chegam aos olhos e ouvidos tão naturalmente quanto o processo de inspira-expira. Sua escrita me ilumina, me inspira, me alegra.

    Obigado por esse seu escrever querido.

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