Era um quarto de Violeta, de uma Violeta ao chão em
cacos dispersos nos seus cantos chochos, sem timbre, aqueles pequenos quatro
cantos fugidios; seus cantos e os outros cantos eram ecos vazios.
Sua lamúria era dó, enquanto seus sussurros davam
ré, rentes às janelas entreabertas, convites para se estar só. Àquelas janelas
perpetuavam delicadas cortinas alvas, salvas de antemão da mão a erguer uma
flor despetalada.
Em quantos espinhos se feriu, pois que teimosa como
uma rosa rodeou com dedos delgados a haste pontiaguda da flor?
Era do seu contragosto, todavia de bom grado: o
trinco cego da porta foi retirado, a chave foi sem delonga partida e o mundo de
fora não mais serviria assim que as janelas do quarto se fechassem para calar o
ranger. O adeus de um amor murcho fez da Violeta muda e desditosa em um
princípio desconhecido, vencido por ela, derrotado para ela, vez que bastaria entender
como ser sua antes de ser de outrem (não é nas mudas que brotam vidas também?).
Sua lamúria perdurou sendo dó até seus olhos,
cheios, adormecerem no assoalho amadeirado, antes de chegar ao sol.
- Então isso é uma escala – ela confessou às
paredes.
Era um quarto de violeta, mas poderia ser um terço,
ou metade.
(Marco de Moraes)