O que sobrou foram as
sementes. Severo seria, além de um bom mentiroso, menino teimoso se espalhasse
para os quatro ventos que os frutos de acerola do quintal de casa eram coisas
bobas, nada de mais.
- Desce dessa árvore
agora! - não havia um dia sem berros vindos da sua mãe. Adultos eram chatos, então seguia as
vozes das crianças que só ele ouvia nas brincadeiras de menino solitário que
perdiam a hora encontrando mil desculpas para uma estória ou outra ter o final
feliz mordiscando daquelas pequenas.
Não havia ambições.
Como entender as
queixas do pai acerca dos males do mundo, se para sorrir bastavam acerolas?
Naqueles poucos metros de chão vivia uma família simples, de roça, que um dia
partiu para visitar um parente distante que adoeceu. Sem ter as passagens,
venderam a casa ao vizinho da frente por um mero trocado. Além disso,
confiariam o menino aos seus cuidados quando prometeram o retorno que nunca
aconteceu.
Severo era como o pai: pensava, fazia, então resolveu crescer por si
só, ser um bom cabra. Como viu a árvore ser derrubada pelo simples
desgosto do homem da casa, o menino partiu com saudade deveras chorosa. Antes
de ir de vez, arou com os dedos um bocado de terra perto da casa e ali cobriu duas
sementes...
Calos nas mãos, inchada; braços firmes, labuta; os pelos no rosto
eram vivência. Foi-se o tempo longe.
A saudade do passado bom o convenceu a
voltar.
Ao chegar, pôs o chapéu no peito, ficou um tanto sem jeito, silenciou.
Apesar de os poucos metros da sua infância estarem vazios, um pé de acerola
cresceu na terra que havia arado, pé em que uma mulher descansava recostada.
O rapaz se ajeitou sorrateiro no outro lado do tronco.
- Sabe, moço, essas frutas são boas, olhe aqui estas sementes!
Severo enfim entendeu que, mesmo em
tempos de mágoa, é possível colher bons frutos quando se planta amor.